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Foto do escritorSuinã Instituto Socioambiental

Como você se sente em meio a natureza?

Ao respirar o ar profundamente ou ao apenas observar o ambiente natural ao nosso redor, somos capazes de construir uma sensação de pertencimento e esse sentimento é capaz de trazer paz e calma. Esquecemos de problemas que nos envolvem no dia a dia e conseguimos nos sentir tranquilos, vivendo apenas aquele momento.


Essa sensação de conexão tem um nome: Biofilia.  O conceito de Biofilia, criado por Wilson (1984), ressalta que o ser humano tem necessidades profundas de contato com a natureza, isso de forma biológica, devido a nossa formação em ambientes naturais e não artificiais. Mas de toda forma, estudos apontam que o laço genético não é o suficiente e que requer um aprendizado cultural com vivências na natureza para estimular a tendência de biofilia (KELLERT, 2012).


De acordo com Louv (2016) “O contato com ambientes naturais é um remédio sem contra indicação, e a “Vitamina N” (de natureza) é uma receita completa para se conectar com o poder e a alegria do mundo natural”. Essa busca por reconexão com a natureza teve um aumento significativo após a pandemia do COVID-19, em que as pessoas saíam de ambientes fechados, suscetíveis a doenças psicológicas em busca de espaços capazes de proporcionar sensação de bem estar físico e emocional (SILVA-MELO 2020).


Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


A partir desse vínculo, a Educação Ambiental (EA) vem como um ponto essencial no uso de metodologias, com o poder de ser uma ponte para a compreensão e respeito do meio ambiente, englobando uma rede de relações, não apenas naturais, mas também sociais e culturais (CARVALHO, 2018). Podemos também traduzir a EA como a busca da  construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do meio ambiente natural e construído. (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, Art. 3º).


Umas das ramificações da EA que vem ganhando força é a observação de aves, que traz para a prática o conteúdo de inúmeros documentários, filmes, livros e artigos. Por meio dessa prática é possível realizar uma imersão na natureza, trazendo percepções críticas referente ao meio em que estamos inseridos (SILVA, 2015). Além de ser uma atividade ecoturística que envolve participantes de todas as idades, auxiliando em diversas questões de sustentabilidade (ALVES, 2020). O diretor  e biólogo do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), José Fernando Pacheco, ressalta que “a observação cria uma relação de respeito e harmonia com a natureza". Há um despertar dos sentidos, não apenas para as aves, mas para o hábitat em que elas vivem”. 


A observação de aves vem como um diferencial pedagógico que possibilita várias abordagens de forma multidisciplinar. A escolha das aves para a prática de observação vem devido sua diversa expansão territorial e variedade de espécies. Elas ocorrem em qualquer ambiente e em todas as estações do ano, além de serem um elemento relevante em diversos ecossistemas servindo também de bioindicadores (COSTA,2007).


Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


Levando esses dados em consideração, o Instituto Suinã estabeleceu parceria com a SAVE Brasil e muitas outras instituições, para o planejamento do evento Avistando e, desde 2022, os encontros vêm ganhando cada vez mais força na região do Vale do Paraíba, Alto Tietê e Litoral Norte.


Em 2023 contamos com a participação de 9 prefeituras municipais, sendo elas: Salesópolis, Caraguatatuba, Jacareí, Mogi das Cruzes, Santa Branca, Guararema, São José dos Campos e os distritos de São Francisco Xavier e Lagoinha. Contamos também com o envolvimento de 14 instituições além do Instituto Suinã, são elas: SAVE Brasil, Associação Colibri, companhia Suzano, SESC Mogi, Assentamento Egídio Brunetto I, Parques Estaduais da Serra do Mar - Núcleo Padre Dória e Caraguatatuba, os parques urbanos Viveiro Municipal Seo Moura, Parque Vicentina Aranha, NEA Ilha Grande,  Museu da Energia de Salesópolis, Parque dos Pássaros,  Sítio Corujinha e Sítio Macuquinho.


Durante os encontros foram realizadas palestras e oficinas e as trilhas sempre contaram com a orientação de especialistas na área. Esse acompanhamento foi essencial, pois forneceu informações adicionais aos participantes e facilitou uma troca mais rica de experiências e conhecimentos. O processo de identificação das espécies avistadas foi de maneira coletiva e registrado em listas no aplicativo eBird, que colabora na construção da ciência cidadã, sendo uma estratégia e oportunidade para promoção de vínculo com a natureza e seus elementos, comprometimento com sua proteção, aprimoramento e democratização do conhecimento (MAMEDE, BENITES & ALHO,2017).


Registro: Paolo Oliveira

Imagem: Parque Estadual Serra do Mar - Núcleo Padre Dória, Salesópolis/ SP


Ao longo de nossas atividades, realizamos um total de 13 encontros em áreas verdes, parques urbanos e unidades de conservação nos 9 municípios e distritos participantes. Esses eventos contaram com a participação de 279 observadoras e observadores de aves, resultando no avistamento de 661 indivíduos de 200 espécies diferentes.


Estamos imensamente gratificadas pelos resultados alcançados nesta edição, que contou com o ampliação de encontros em 116% e um notável aumento na participação, com um impressionante crescimento de 187%. Este acréscimo de encontros e presença dos participantes teve um impacto direto na diversidade avistada, com um aumento de 125% na quantidade de espécies registradas.


O Avistando tem como objetivo sensibilizar a população envolvida, incentivando um olhar mais amplo para o meio em que vivem e uma maior proximidade com nossa biodiversidade. Ao promover um olhar mais crítico e sensível, buscamos estimular a busca por alternativas que estabeleçam o equilíbrio em ambientes impactados pela ação antrópica, abordando questões nos âmbitos socioambiental, político e econômico.


Registro: Lorrane Coelho

Imagem: Viveiro, Jacareí / SP


Autora: 

Laura Oliveira, graduanda em Biologia, adentrando nesse novo mundo do terceiro setor, atuante em projetos de Educação ambiental e Educomunicação. Técnica Socioambiental do Instituto Suinã.


Co-autora:

Lorrane Coelho é caiçara, bióloga e entusiasta pela educação na transformação da relação entre ser humano e natureza. Pós-graduanda em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Especialista Socioambiental do Instituto Suinã.


Referências

ALVES, Kaylla Lemes; FONSECA FILHO, Ricardo Eustáquio. Observação de aves e educação ambiental: percepções de alunos de escola pública, Uberlândia/MG. TURYDES: Revista sobre Turismo y Desarrollo local sostenible, v. 13, n. 28, p. 349-361, 2020.


CARVALHO, I. C. M. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2018.


DA SILVA-MELO, Marta Regina; DE MELO, Gleidson André Pereira; GUEDES, Neiva Maria Robaldo. Unidades de Conservação: uma reconexão com a natureza, pós COVID-19. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 15, n. 4, p. 347-360, 2020.


DE ANDRADE COSTA, Ronaldo Gonçalves. Observação de aves como ferramenta didática para educação ambiental. Revista Didática Sistêmica, v. 6, p. 33-44, 2007.


LOUV, R. A última criança na natureza: resgatando nossas crianças do transtorno do deficit de natureza. São Paulo: Aquariana; 2016.


MAMEDE, Simone; BENITES, Maristela; ALHO, Cleber José Rodrigues. Ciência cidadã e sua contribuição na proteção e conservação da biodiversidade na reserva da biosfera do Pantanal. Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA), v. 12, n. 4, p. 153-164, 2017.


VIEIRA-DA-ROCHA, M.C.; MOLIN, T. A aceitação da observação de aves como ferramenta didática no ensino formal. Atualidades Ornitológicas On-line, n. 146, p. 33-37, 2008.


KELLERT, S. Birthright: People and Nature in the Modern World. Yale University Press, 2012.


WILSON, E. O. Biophilia. Boston: Harvard University Press, 1984. 157p.

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